terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Cascas de alimentos se transformam em matéria-prima




Por Diogo Silva

Um destino comum para as cascas dos alimentos que consumimos é a lata de lixo. Existem iniciativas, porém, que estão reaproveitando estes materiais de maneira curiosa e inovadora. Vamos conhecer, abaixo, algumas dessas propostas de reutilização das cascas de ovos, frutas e cereais que podem contribuir para o alcance de uma sociedade mais sustentável.

Ovo – A farinha de cascas de ovos já é popularmente conhecida como uma rica fonte de cálcio, indicada, principalmente, em casos de osteoporose. Uma matéria veiculada no site Inovação Tecnológica (www.inovacaotecnologia.com.br), no entanto, traz duas novas aplicações para esse material. Pesquisas realizadas pela Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, mostraram que é possível produzir colágeno a partir dessas cascas, assim como utilizá-las em um processo de produção de hidrogênio.

O colágeno, substância que compõe 10% da membrana que reveste o interior das cascas de ovos, é retirado por meio da ação de um ácido orgânico e pode ser utilizado por indústrias alimentícias, fabricantes de cosméticos e na recuperação de pessoas com queimaduras graves.

Banana – Você imaginaria que seria possível despoluir a água contaminada por metais pesados usando cascas de banana? Pois esta foi a descoberta da química Milena Boniolo. Ela observou que as cascas dessa fruta possuem uma grande quantia de moléculas com carga negativa, e que, conforme o princípio da química de que os opostos se atraem, seria possível atrair os metais pesados positivamente carregados. Para que isso seja possível, as cascas são secas, trituradas e peneiradas. Apenas 5 mg desse pó são suficientes para despoluir 100 ml de água. A invenção, no entanto, aguarda patrocínios para ser produzida em larga escala.

Arroz – A queima da casca do arroz para a geração de energia já é uma realidade no Brasil. Somente no Rio Grande do Sul, quatro companhias de gêneros alimentícios já praticam essa atividade, reaproveitando as cascas obtidas durante o processo de beneficiamento do arroz. E, no próximo mês de maio, a cidade de São Borja, também no estado gaúcho, deve inaugurar uma termoelétrica desse tipo, construída pela empresa MPC Bioenergia do Brasil.

O empreendimento terá capacidade para a geração de 12,5 Megawatts, o suficiente para abastecer uma cidade com 80 mil habitantes. Entre os benefícios trazidos pela obtenção de energia a partir das cascas de arroz estão a pouca poluição produzida pela sua fumaça, por não possuir enxofre, o recebimento da energia gerada pela termoelétrica em tempo real por parte da companhia de energia do estado e a possibilidade de reaproveitar as cinzas das cascas como material fertilizante.

Casca de Laranja – Uma pesquisa realizada em conjunto por cientistas da Universidade de York, na Grã-Bretanha, da Universidade de São Paulo e da Universidade de Córdoba, divulgada pela BBC no ano passado, estuda a possibilidade de transformar cascas de laranja em compostos químicos e biocombustível.

De acordo com os pesquisadores, um campo de microondas ativaria a celulose presente nas cascas e provocaria a liberação de vários elementos químicos que podem ser usados para fabricar materiais que atualmente dependem de petróleo e na fabricação de biocombustíveis. Um dos elementos que seriam liberados com essa técnica, o d-limoleno, apresenta condições de ser utilizado diretamente na fabricação de perfumes e outros produtos químicos. A aplicação desta técnica ajudaria a reduzir um montante de 8 milhões de toneladas cascas por ano, o total de resíduos da produção comercial de suco de laranja no Brasil.

Coco verde - No Rio de Janeiro, o Projeto Coco Verde realiza a reciclagem da casca do coco, em um processo que dá origem a diversos produtos. A empresa foi criada em 1999, quando apenas vendia a fruta. No decorrer da atividade, deparou com o problema das cascas de coco geradas pelo seu próprio negócio. “Após inúmeras pesquisas, foi desenvolvida uma tecnologia única para reciclagem e transformação desse resíduo em vários produtos. Isso se tornou a atividade principal da empresa, garantindo a sobrevivência e o crescimento da mesma”, diz Philippe Jean Herni Mayer, gerente de projetos da Coco Verde RJ.

Por meio do processo de reciclagem são reaproveitadas, principalmente, as fibras do coco, que resultam em produtos para paisagismo, jardinagem e decoração, como vasos que substituem o xaxim, uma planta ameaçada de extinção no país. A fibra reciclada também pode ser aproveitada como isolante térmico e acústico e na fabricação de forros de carros, estofamentos e cordas.

Em Fortaleza (CE), a CoobCoco (Cooperativa de Beneficiamento da Casca do Coco Verde), utiliza tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para a reciclagem do coco. O pó resultante do processo, além das fibras, também é aproveitado, sendo utilizado para a produção de substratos agrícolas.

Projeto Premiado – No início de agosto, o professor Eraldo Martins, do curso de edificações da Escola Técnica Estadual Professor Agamemnom Magalhães (ETEPAM), em Recife (PE), venceu a etapa nacional do prêmio Educadores Inovadores, promovido pela Microsoft, com o projeto Construcoco.

O projeto prevê a utilização da fibra do coco em conjunto com barro para a fabricação de tijolos. “Não escolhemos o coco à toa. A decisão foi feita após considerar os benefícios à sociedade que o projeto poderia trazer. Dados da Elus, empresa de limpeza urbana de Recife, mostram que 70% do lixo gerado na faixa litorânea é proveniente do coco”, diz o professor Eraldo Martins.

A expectativa, agora, é conseguir uma máquina de prensa hidráulica para a fabricação dos tijolos e outra para triturar o coco verde. “Acreditamos que, com os equipamentos necessários para estudo e desenvolvimento do projeto, será possível construir e levar esse conhecimento a diversas instituições, comunidades e projetos sociais”, declara Eraldo.

De acordo com o professor, muitas empresas se interessaram pelo projeto durante a 4ª Feira Internacional Para Intercâmbio das Boas Práticas Socioambientais, realizada em São Paulo no mês de julho, o que pode resultar em futuras parcerias. “Estamos nos preparando para que isso aconteça o quanto antes e que a sociedade seja a maior beneficiada com nosso projeto”, espera o professor.
Fonte: ressoar

Nenhum comentário:

Postar um comentário